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Papelão, ácido cancerígeno, exagero da PF: você ente ndeu a Carne Fraca?

Ricardo Marchesan, Thâmara Kaoru e Nivaldo Souza Do UOL e colaboração para o UOL, em São Paulo 25/03/201704h00... - Veja mais em https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2017/03/25/papelao-acido-cancerigeno-exagero-da-pf-voce-entendeu-a-carne-fraca

A divulgação da operação Carne Fraca pela Polícia Federal deixou muitos consumidores com dúvidas sobre a qualidade dos alimentos e os riscos à saúde. Especialistas consultados pelo UOL dizem, porém, que não há motivo para pânico e que houve exagero e confusão em relação a suspeitas de uso de carne podre, ácidos cancerígenos e papelão. 



Veja algumas perguntas e respostas sobre o caso....
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 É perigoso comer carne brasileira hoje?  

Na terça-feira (21), a Polícia Federal divulgou nota, assinada em conjunto com o Ministério da Agricultura, afirmando que as irregularidades apuradas pela Operação Carne Fraca são "pontuais"e "não representam um mau funcionamento generalizado do sistema de integridade sanitária brasileiro". "O Sistema De Inspeção Federal (SIF) brasileiro já foi auditado por vários países que atestaram sua qualidade. O SIF garante produtos de qualidade ao consumidor brasileiro", diz a nota. Para Regina Célia Santos Mendonça, professora de tecnologia de produtos de origem animal da Universidade Federal de Viçosa (UFV), não é perigoso comer carne. "A indústtria de carne brasileira está muito bem, no momento, com muitos profissionais qualificados. A gente tem um produto de muito boa qualidade." Mario Luiz Chizzotti, professor de cadeia produtiva da carne do departamento de Zootecnia, também da UFV, concorda. "De jeito algum [é perigoso]. Totalmente seguro", afirma. "Pode comer carne tranquilamente." Os dois dizem que os processos de controle de qualidade são confiáveis e que as irregularidades verificadas são casos isolados, que não representam a realidade do mercado como um todo, não devendo ser generalizados.

O preço da carne deve cair?

Segundo Otto Nogami, professor de economia do Insper, a tendência é que os consumidores comprem menos carne. "Em um primeiro momento, como consequência imediata, é inevitável a queda na demanda. As pessoas passam a comprar menos para desovar o estoque, a tendência natural é o preço começar a cair", diz. Já o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Carnes do Estado de São Paulo, Manuel Henrique Farias Ramos, afirma que ainda é preciso esperar o comportamento do consumidor e do mercado externo para saber se haverá queda no preço da carne.

Posso identificar uma carne estragada, mas que esteja "disfarçada" como boa?



Os especialistas afirmam que, se a carne estiver estragada, é possível perceber pelo aspecto, cheiro e sabor, porque essas características são difíceis de serem disfarçadas com qualquer aditivo. O professor Mario Luiz Chizzotti  afirma que a indústria não usa nenhum aditivo na carne in natura (fresca, que não foi processada), e que as irregularidades nos frigoríficos citados pela Polícia Federal na Operação Carne Fraca são em carnes processadas(como salsichas e linguiças, por exemplo). Ele afirma, porém, que mesmo que alguma empresa tentasse usar algo para mascarar uma carne in natura estragada, isso "não seria efetivo" poderia até mascarar a cor, mas não alteraria o sabor ou o cheiro de estragado. "Carne é um produto muito delicado", afirma a professora Regina Mendonça. "Qualquer alteração, ela começa a ser perceptível e, muitas vezes, não é fácil de controlar. Não é 'maquiável', em que simplesmente se passa um produtinho e vai parecer que está normal. Não funciona desse jeito."


É possível que tenha sido colocado papelão nas carnes?

A PF divulgou áudio em que um funcionário da BRF fala que o "problema é colocar papelão lá dentro do CMS também". A sigla significa "Carne Mecanicamente Separada", de acordo com a Polícia Federal. "Eu vou ver se eu consigo colocar em papelão. Agora, se eu não conseguir em papelão, daí infelizmente eu vou ter que condenar", diz o funcionário. Os investigadores entenderam se tratar da mistura de papelão com carne para fazer produtos enlatados. A BRF negou com veemência que isso possa ocorrer. A empresa afirma que a PF cometeu "claro e gravíssimo erro" ao interpretar o áudio, que se referia a embalagens de papelão para armazenar produtos. A professora Regina Mendonça diz que a versão da BRF é crível, e que não faria sentido adicionar papelão à carne, porque isso não traria nenhum benefício. Pelo contrário: aceleraria o processo de apodrecimento. "O produto [carne] estraga com muita rapidez. Aumenta a deterioração, porque [o papelão] é uma matéria estranha extremamente contaminada", afirma.  Ela diz que, caso pedaços de papelão aparecessem em algum produto, seria consequência de um erro, uma contaminação indesejada, não algo premeditado. Apesar dessa contaminação ser possível, seria um "descuido imperdoável", segundo ela, porque não é permitido papelão perto das linhas de produção, justamente para evitar esse tipo de situação. Ainda assim, a professora afirma que o consumidor perceberia a presença na carne.

Houve exagero ou generalização da PF na operação?        

Os especialistas consultados pelo UOL acreditam que sim. "Houve uma distorção das informações. Elas foram colocadas de uma forma muito exagerada, fora do contexto", afirma Regina Mendonça. "No Brasil, infelizmente, em qualquer escala, é possível ter corrupção. Mas a denúncia também não é sobre todo o sistema. É pontual, em cima de uma regional [a maior parte das empresas investigadas fica no Paraná]", diz Mario Luiz Chizzotti. A forma como a operação foi divulgada também causou mal-estar entre a PF e a Justiça, que, segundo fontes, esperava uma comunicação mais focada no esquema de corrupção, não na qualidade da carne. A mensagem de que toda a carne brasileira pode conter papelão, salmonella, ácido e outros aditivos irritou particularmente o juiz da 14ª Vara de Curitiba, Marcos Josegrei da Silva, responsável pela operação. Ele havia sugerido cautela técnica à PF em seu despacho para que a narrativa se construísse no objeto da investigação: a corrupção. Mas foi ignorado pela PF. O presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Carlos Eduardo Sobral, apontou "falha de comunicação" na divulgação da investigação, que "talvez tenha gerado essa interpretação de que aqueles fatos eram um problema sistêmico de todo o mercado produtivo brasileiro". Na terça-feira (21), o delegado Roberto Biasoli, responsável pelas investigações, recuou e divulgou uma nota conjunta com o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Eumar Roberto Novacki. Nela, atestam que o Sistema de Inspeção Federal (SIF) "garante produtos de qualidade ao consumidor brasileiro" e que ele "já foi auditado por vários países que atestaram sua qualidade".




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