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O que a economia diz sobre o primeiro ano de governo Temer

Quando discursou pela primeira vez como presidente, em 12 de maio de 2016, Michel Temer disse que seu maior desafio era "estancar o processo de queda livre da atividade econômica e melhorar significativamente o ambiente de negócios do setor privado, para produzir mais e gerar mais emprego e renda". 

Com desemprego alto, consumo ainda é insipiente
Foto: Marcelo Camargo/ABr / BBCBrasil.com


Mas passado um ano de seu governo, é possível dizer que o país ensaia uma recuperação econômica? O que a economia tem a dizer, de positivo e negativo, sobre a mudança política do Brasil?
A BBC Brasil conversou com três analistas econômicos e analisou os índices econômicos mais recentes para responder essas perguntas, em oito pontos.

1. Emprego em baixa

Os dados mais recentes do IBGE não são animadores: o instituto diz que o país tem 14 milhões de desempregados. O índice de desemprego bateu recorde no primeiro trimestre de 2017, chegando a 13,7%.

"As empresas esperam sinais mais claros tanto para demitir (no início de uma crise) quanto para recontratar, por conta dos custos trabalhistas e de treinamento", explica Alessandra Ribeiro, diretora da área de macroeconomia e política da consultoria Tendências.
André Perfeito, economista-chefe do Gradual Investimentos, lembra que mesmo uma redução no índice de desemprego pode não ser boa notícia no momento atual: "Pode significar que uma parcela das pessoas simplesmente parou de procurar trabalho. Por enquanto, falta demanda econômica para estimular a criação de novas vagas."
A expectativa é de que o emprego só seja retomado mesmo em 2018, "quando devem ser criados postos de trabalho em ritmo suficiente para absorver as pessoas que estavam fora do mercado", diz Ribeiro. 


2. Inflação mais controlada

Os economistas veem como um importante sinal positivo o fato de a inflação se mostrar sob controle, depois de anos em alta: o aumento de IPCA (medição oficial) de abril, por exemplo, foi de 0,14%, índice mais baixo desse mês já registrado pelo IBGE desde o início do Plano Real, em 1994. 


Fila na Caixa para resgate do FGTS; liberação de contas inativas buscou incentivar consumo
Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil / BBCBrasil.com


Com isso, a expectativa é de que a inflação deste ano se mantenha dentro da meta de 4,5%.
O problema: o fato de os preços não estarem subindo é justamente "consequência da tremenda recessão" do país, diz Francisco Lopreato, do Instituto de Economia da Unicamp.
A boa notícia: com a inflação em queda, houve um incremento real no salário de quem está empregado, aumentando seu poder de compra, diz Alessandra Ribeiro.

3. Taxa de juros em queda

Menos inflação significa mais espaço para a queda da taxa de juros (Selic), reduzida para 11,25% na última reunião do Conselho de Política Monetária do Banco Central. O conselho citou justamente a "dinâmica favorável da inflação" entre os fatores que o levaram a reduzir os juros do país. 
 
A expectativa, entre analistas ouvidos pelo próprio Banco Central em seu boletim oficial, é de que a Selic caia ainda mais até o final do ano, para 8,5%.
A velocidade da queda da taxa costuma gerar debate entre economistas. Lopreato acha que o BC demorou demais para reduzir as taxas, "contribuindo para a situação atual de crise".
Para André Perfeito, o impulso econômico gerado pelos juros mais baixos talvez só seja sentido no ano que vem, quando as famílias talvez consigam quitar suas dívidas e voltar a consumir mais.

4. Consumo ainda patinando

Uma revisão de metodologia do IBGE apontou alguns sinais de alta nos números recentes do varejo, e há indicativos de aumento da confiança dos comerciantes.
Ao mesmo tempo, com o desemprego alto e o crédito escasso, o consumo das famílias fica necessariamente comprometido. 

A liberação de contas inativas do FGTS traz algum impulso - segundo o governo, os saques injetarão R$ 34,5 bilhões na economia -, mas seu impacto no consumo é alvo de debate.
Para Ribeiro, da Tendências Consultoria, se uma parte significativa desse dinheiro chegar ao consumo, pode incrementar o PIB (Produto Interno Bruto) em 0,3 ponto percentual. 

Para Lopreato, da Unicamp, porém, "ainda que seja um volume importante de recursos, está diluído no tempo (já que os saques estão sendo liberados aos poucos) e grande parte desses recursos não vai para gastos das famílias, mas sim para pagar dívidas".
O lado bom disso, opina André Perfeito, é que talvez tenhamos mais consumidores sem dívidas em 2018.

5. Produção industrial volátil

A produção industrial caiu 1,8% em março em relação ao mês anterior e mantém desempenho fraco desde o início do ano, segundo o IBGE, em um exemplo de como a atividade econômica ainda não decolou.
"A ociosidade da indústria ainda está muito elevada", diz Perfeito.
Alessandra Ribeiro ressalta, porém, que o setor, em média, cresceu no último trimestre em relação ao anterior e que a confiança da indústria tem dado sinais mais positivos, apesar da volatilidade.

6. Agricultura e balança comercial com mais fôlego

Com o aumento da produção agrícola e dos preços internacionais dos alimentos, a agricultura tem sido a boa surpresa, dando alento ao cenário econômico e contribuído com um saldo positivo na balança comercial (relação entre as exportações e importações do país).
Em março, o Brasil registrou superavit recorde (ou seja, mais dinheiro entrou nas exportações do que saiu nas importações): US$ 7,1 bilhões, justamente por causa da venda de carne e outras matérias-primas.

7. Investimento, PIB e expectativas dos empresários em debate

Quando o IBGE divulgou os números da atividade econômica brasileira de 2016, em março, trouxe várias más notícias: o PIB (Produto Interno Bruto) do país caiu 3,6% no ano passado e a taxa de investimento recuou 1,6% no último trimestre.
Os sinais dos investimentos neste ano ainda são incertos. Ribeiro acredita que as taxas devem estar voltando a crescer. Lopreato e Perfeito, porém, são menos otimistas. 

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