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PCC planejava aliança com o Comando Vermelho para atacar autoridades

Os ataques teriam como principais alvos agentes penitenciários federais, juízes, delegados da PF e promotores de Justiça de São Paulo que investigam o crime organizado no estado
São Paulo foi alvo de uma série de ataques do PCC em maio de 2006: agora, a facção mirava agentes públicos que investigam o crime organizado

As duas maiores facções criminosas do país, Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), estariam planejando uma aliança para semear o caos em, pelo menos, cinco estados nos próximos dias. É o que apontam relatórios da Polícia Federal e da Secretaria Nacional de Segurança Pública, com base em informações do serviço de inteligência. Os ataques teriam como principais alvos agentes penitenciários federais, juízes, delegados da PF e promotores de Justiça de São Paulo que investigam o crime organizado no estado.

Os ataques teriam como foco São Paulo, Rondônia, Paraná, Roraima e Ceará. O Rio de Janeiro também poderia entrar na mira, com a detonação de explosivos num dos aeroportos, segundo o relatório. As investidas estariam previstas para a última semana deste mês.

Na quinta-feira, o general do Exército Eduardo Villas Boas questionou, por meio do Twitter: “Na questão da segurança pública, o país estaria preparado para efeitos colaterais advindos do enfrentamento efetivo ao crime organizado?”, publicou. Para especialistas, o problema é profundo, antigo e ainda sem solução.

De acordo com Arthur Trindade, do Departamento de Sociologia da UnB, o Brasil não está preparado para um embate porque não resolveu antigos problemas e agora precisa lidar com novas modalidades do crime organizado. “O desafio é enorme, pela incapacidade do Estado de solucionar o problema mais antigo. Já era para ter resolvido a questão das mortes por droga. Não fizemos o dever de casa”, criticou. Na visão dele, a Polícia Militar e o Ministério Público entupiram as cadeias. “Um terço está preso de forma irregular, temporária. Agora, tem crime organizado nas cadeias. Entope as prisões de traficantes e elas se tornam inadministráveis. O crime que nasce nos presídios é mais organizado porque consegue ações simultâneas, com um grau de coordenação, planeja rebeliões coordenadas e, às vezes, consegue.”

Para ele, os possíveis efeitos colaterais estão relacionados à moda antiga de enfrentamento ao crime. “Violência de Estado, quebra de garantias constitucionais e aumento de letalidade em confrontos são efeitos que geram morte, prisão e não estão na Constituição cidadã dos direitos políticos, civis e sociais”, frisou. “Não pode executar traficante na rua. A centralidade das Forças Armadas na estratégia de segurança pública implica a ideia de que tem que caber dentro do Estado democrático de direito, não pode ultrapassar os limites da lei. Quer lidar à moda antiga ou encontrar uma nova? A velha solução é violenta e injusta.”

Visitas
A motivação dos ataques seria a proibição a visitas em presídios federais. A medida foi uma resposta à execução de três servidores de penitenciárias federais. Em setembro do ano passado, o agente Alex Belarmino Almeida foi morto durante emboscada em Cascavel (PR). Em abril, Henry Charles Gama Filho, também agente penitenciário federal, foi assassinado em Mossoró (RN). Em maio, a psicóloga Melissa de Almeida Araújo, do presídio federal de Catanduvas (PR), teve o mesmo destino. As três mortes são atribuídas ao PCC.

Na opinião de Bráulio Figueiredo, pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da Universidade Federal de Minas Gerais, o foco deve ser a prevenção, neutralizando essas ações. “Uma vez identificada essa possibilidade, o ponto central é neutralizar. Tem que impedir a entrada de celulares e bloquear o sinal. A fiscalização nos presídios federais é eficiente? Tem que ver em quais presídios funcionou.”

"O desafio é enorme, pela incapacidade do Estado de solucionar o problema mais antigo. Já era para ter resolvido a questão das mortes por droga. Não fizemos o dever de casa”
Arthur Trindade, do Departamento de Sociologia da UnB

Os braços do crime
O PCC é a maior facção criminosa do país, presente em todos os estados brasileiros, em pelo menos seis países sul-americanos e em três continentes. A organização movimenta cerca de R$ 200 milhões por ano, e 80% dos rendimentos advêm do tráfico de drogas, segundo dados do Ministério Público Estadual de São Paulo. “Estudos mostram uma mínima organização do PCC, mas esse tema demanda mais investigação sobre a amplitude territorial que a facção alcança. Em São Paulo, é maior. É preciso identificar qual é a dimensão do braço do PCC no restante do país”, ressaltou Bráulio Figueiredo, pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da Universidade Federal de Minas Gerais.

Arthur Trindade, do Departamento de Sociologia da UnB, avaliou que, além da violência, o crime organizado provoca três problemas graves. “O primeiro é antigo e até hoje não foi solucionado, está relacionado ao negócio da droga e gera muitas mortes. O segundo, é a corrupção. Para uma organização criminosa existir, tem que ter, no mínimo, a tolerância de agentes do Estado, de promotores, de policiais”, disse. “O terceiro é a relação com as eleições, condicionando o funcionamento delas à permissão de milicianos a determinados candidatos. Esse é o Brasil profundo. Para subir no morro para fazer campanha, só se o mandante permitir. Isso coloca em risco o funcionamento do sistema eleitoral.”

Um comentário:

  1. As guerra entre as facções continua com mortos dos dois lados, o que demonstra na prática que não houve tal acordo. Agora o Primeiro Comando da Capital distribui nota de esclarecimento a respeito dessa questão.
    http://www.aconteceuemitu.org/2017/09/e-verdade-que-houve-um-acordo-entre-o.html

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