Foto: Marcelo Camargo/ABr / BBCBrasil.com
Mas passado um ano de seu governo, é possível dizer que o país ensaia
uma recuperação econômica? O que a economia tem a dizer, de positivo e
negativo, sobre a mudança política do Brasil?
A BBC Brasil conversou com três analistas econômicos e analisou os
índices econômicos mais recentes para responder essas perguntas, em oito
pontos.
1. Emprego em baixa
Os dados mais recentes do IBGE não são animadores: o instituto diz que o
país tem 14 milhões de desempregados. O índice de desemprego bateu
recorde no primeiro trimestre de 2017, chegando a 13,7%.
"As empresas esperam sinais mais claros tanto para demitir (no início
de uma crise) quanto para recontratar, por conta dos custos trabalhistas
e de treinamento", explica Alessandra Ribeiro, diretora da área de
macroeconomia e política da consultoria Tendências.
André Perfeito, economista-chefe do Gradual Investimentos, lembra que
mesmo uma redução no índice de desemprego pode não ser boa notícia no
momento atual: "Pode significar que uma parcela das pessoas simplesmente
parou de procurar trabalho. Por enquanto, falta demanda econômica para
estimular a criação de novas vagas."
A expectativa é de que o emprego só seja retomado mesmo em 2018,
"quando devem ser criados postos de trabalho em ritmo suficiente para
absorver as pessoas que estavam fora do mercado", diz Ribeiro.
2. Inflação mais controlada
Os economistas veem como um importante sinal positivo o fato de a
inflação se mostrar sob controle, depois de anos em alta: o aumento de
IPCA (medição oficial) de abril, por exemplo, foi de 0,14%, índice mais
baixo desse mês já registrado pelo IBGE desde o início do Plano Real, em
1994.
Com isso, a expectativa é de que a inflação deste ano se mantenha dentro da meta de 4,5%.
O problema: o fato de os preços não estarem subindo é justamente
"consequência da tremenda recessão" do país, diz Francisco Lopreato, do
Instituto de Economia da Unicamp.
A boa notícia: com a inflação em queda, houve um incremento real no
salário de quem está empregado, aumentando seu poder de compra, diz
Alessandra Ribeiro.
3. Taxa de juros em queda
Menos inflação significa mais espaço para a queda da taxa de juros
(Selic), reduzida para 11,25% na última reunião do Conselho de Política
Monetária do Banco Central. O conselho citou justamente a "dinâmica
favorável da inflação" entre os fatores que o levaram a reduzir os juros
do país.
A expectativa, entre analistas ouvidos pelo próprio Banco Central em
seu boletim oficial, é de que a Selic caia ainda mais até o final do
ano, para 8,5%.
A velocidade da queda da taxa costuma gerar debate entre economistas.
Lopreato acha que o BC demorou demais para reduzir as taxas,
"contribuindo para a situação atual de crise".
Para André Perfeito, o impulso econômico gerado pelos juros mais baixos
talvez só seja sentido no ano que vem, quando as famílias talvez
consigam quitar suas dívidas e voltar a consumir mais.
4. Consumo ainda patinando
Uma revisão de metodologia do IBGE apontou alguns sinais de alta nos
números recentes do varejo, e há indicativos de aumento da confiança dos
comerciantes.
Ao mesmo tempo, com o desemprego alto e o crédito escasso, o consumo das famílias fica necessariamente comprometido.
A liberação de contas inativas do FGTS traz algum impulso - segundo o
governo, os saques injetarão R$ 34,5 bilhões na economia -, mas seu
impacto no consumo é alvo de debate.
Para Ribeiro, da Tendências Consultoria, se uma parte significativa
desse dinheiro chegar ao consumo, pode incrementar o PIB (Produto
Interno Bruto) em 0,3 ponto percentual.
Para Lopreato, da Unicamp, porém, "ainda que seja um volume importante
de recursos, está diluído no tempo (já que os saques estão sendo
liberados aos poucos) e grande parte desses recursos não vai para gastos
das famílias, mas sim para pagar dívidas".
O lado bom disso, opina André Perfeito, é que talvez tenhamos mais consumidores sem dívidas em 2018.
5. Produção industrial volátil
A produção industrial caiu 1,8% em março em relação ao mês anterior e
mantém desempenho fraco desde o início do ano, segundo o IBGE, em um
exemplo de como a atividade econômica ainda não decolou.
"A ociosidade da indústria ainda está muito elevada", diz Perfeito.
Alessandra Ribeiro ressalta, porém, que o setor, em média, cresceu no
último trimestre em relação ao anterior e que a confiança da indústria
tem dado sinais mais positivos, apesar da volatilidade.
6. Agricultura e balança comercial com mais fôlego
Com o aumento da produção agrícola e dos preços internacionais dos
alimentos, a agricultura tem sido a boa surpresa, dando alento ao
cenário econômico e contribuído com um saldo positivo na balança
comercial (relação entre as exportações e importações do país).
Em março, o Brasil registrou superavit recorde (ou seja, mais dinheiro
entrou nas exportações do que saiu nas importações): US$ 7,1 bilhões,
justamente por causa da venda de carne e outras matérias-primas.
7. Investimento, PIB e expectativas dos empresários em debate
Quando o IBGE divulgou os números da atividade econômica brasileira de
2016, em março, trouxe várias más notícias: o PIB (Produto Interno
Bruto) do país caiu 3,6% no ano passado e a taxa de investimento recuou
1,6% no último trimestre.
Os sinais dos investimentos neste ano ainda são incertos. Ribeiro
acredita que as taxas devem estar voltando a crescer. Lopreato e
Perfeito, porém, são menos otimistas.
FONTE: https://www.terra.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários com ofensas, injúria, desrespeito diretamente a pessoas serão removidos.
OBRIGADO POR PARTICIPAR!